A 6 de Agosto de 1966 o Diário de Lisboa escreveu que "quando o sol começou", nessa manhã, "a iluminar o estuário" do Tejo, "já filas ininterruptas de veículos procuravam fazer a travessia" da ponte, hoje denominada 25 de Abril.
O Diário de Notícias na época, descreve com muito detalhe "o dia em que Lisboa se levantou mais cedo" para ver inaugurar "a ponte", como havia de ser dita pelas bocas do povo. A "abertura simbólica" aconteceu "eram 12:44 precisas", há 45 anos. No jornal dá-se conta das excursões, dos turistas e até da simpatia "dos fabricantes de plásticos", que criaram "um prato raso com uma montagem fotográfica de Alcântara, sem esquecer a estrutura metálica inaugurada". Incluídos estão também o relato das buzinas dos carros e autocarros em longas filas à espera de atravessar para Sul e relatos do "alvoroço entre os apreciadores de televisão", que, não podendo assistir a olho vivo, encheram "os cafés de bairro".
A "Ponte Salazar" era, à época, a maior construção do género na Europa e uma das maiores do mundo. Custou mais de 2,1 milhões de contos, precisou de mais de 72 mil toneladas de betão, e chegou a ter, num só dia, as mãos de três mil homens a trabalhar para erguê-la. O Diário de Lisboa relata ainda a longa pompa e circunstância da cerimónia organizada pelo regime fascista de António Oliveira Salazar, que ordenou a construção da infraestrutura e fez dela sua homónima. Depois da revolução de 25 de Abril de 1974, que depôs a ditadura, a ponte mudou de nome. Os primeiros utentes pagaram 20 escudos (10 cêntimos) para passar a ponte. Hoje, 45 anos depois, o bilhete da portagem custa quase 15 vezes mais.
De acordo com dados da Lusoponte, concessionária da primeira travessia sobre o Tejo desde 1996, o preço da portagem paga por um veículo ligeiro desde essa altura até hoje quase duplicou. Entre os momentos que marcaram a história da ponte, que se cruza com a história da contestação às portagens, destacam-se os protestos do dia 24 de Junho de 1994, durante o Governo de Cavaco Silva.
Dezenas de camionistas bloquearam a travessia em protesto contra o aumento de 50 por cento nas portagens, que iria custear a construção da Ponte Vasco da Gama. Depois de largas horas de bloqueio por parte dos manifestantes, a polícia avançou sobre eles. Houve confrontos, diversas detenções, mais de uma dezena de feridos e um jovem ficou paraplégico depois de ter sido atingido por um tiro.
O 'buzinão' foi sempre um clássico da contestação às portagens na ponte, mas nunca como nesse ano. Desde 1966 o número de veículos a passar a ponte não parou de aumentar. Hoje a 25 de Abril recebe mais de 150 mil veículos por dia e cerca de 56 mil composições ferroviárias por ano. Tem uma média de 300 mil utilizadores diários.